Histórico
(Jovem Anambé, 2008)
Os índios Anambé viviam no passado a oeste do rio Tocantins, nas cabeceiras do rio Pacajá, que desemboca no rio Pará (braço do estuário do Amazonas que corre pelo sul de Marajó), perto de Portel. Segundo relato tomado de um líder Anambé pelo pesquisador Fereira Pena, em 1884, viviam desde muito tempo nas cabeceiras do Pacajá, obedecendo a um líder oriundo do ocidente, sábio e guerreiro.
Os brancos lhes vieram fazer guerra; depois, os jesuítas, que com eles mantinham a paz, começaram a separar as mulheres dos maridos e a levar muitos para Portel, os homens para trabalhar nas roças e remar, as mulheres para lavar roupa e cozinhar. Isso os desgostou muito, levou-os a desobedecer ao chefe e a separarem-se. Índios antropófagos lhes vieram fazer a guerra e eles retiraram-se para as cabeceiras do rio Cururuí, um afluente do Pacajá, formando a aldeia de Tauá, donde depois foram para o lugar onde o diretor de índios quis aldeá-los.
De fato, em 1852, uma parte dos Anambé se aproximou da margem esquerda do Tocantins, pediu proteção e se aldeou junto ao distrito de Baião. Os outros continuaram no alto Pacajá. Estes, em 1874, depois de uma guerra contra os indígenas chamados "Curumbu", ficaram reduzidos a 46 indivíduos; no ano seguinte morreram mais 37 de varíola. Os restantes foram juntar-se aos Anambé que se haviam aldeado junto ao Tocantins. As Anambé passaram a viver então nas proximidades da cidade de Baião, nas ilhas dos Santos e de Tauá. Até o final dos século XIX os Anambé oscilaram entre o Tocantins e o Pacajá e em algum momento atravessaram para a margem oriental do Tocantins, indo para a bacia do rio Moju.
As primeiras informações sobre os Anambé na bacia do Moju ora os confundem com os Turiwara, ora com os Amanayé. Conforme narraram ao antropólogo Napoleão Figueiredo, nas cabeceiras do Moju entraram com os Gaviões do Oeste, que dali os expulsaram, obrigando-os a se deslocando na direção do Cairari. A princípio foram os únicos habitantes do alto Cairari, mas a partir dos meados do século XX começaram a entrar nessa área madeireiros e extratores de balata. A princípio os Anambé não foram engajados no trabalho da madeira, atuando mais como fornecedores de peles, carne de caça e farinha. Nos anos 70, alguns Anambé participavam nas turmas de madeireiros como trabalhadores diaristas, enquanto outros negociavam a madeira com um regatão, que era relacionado à mesma serraria. Mas asua participação nos trabalhos da madeira era intermitente, e se tornou apenas ocasional na década seguinte.
Modo de vida
(Aldeia Anambé, 2008)
Os Anambé perderam a maioria dos elementos culturais indígenas externos e seu modo de vida se assemelha aos habitantes da região. Suas habitações são do tipo regional, com cobertura de palha ou de cavacos. Salvo pequenos cestos de carga, abanos, peneiras de trançado em espiral, fusos, pilões, ubás, arcos e flechas, todo o equipamento utilizado pelos Anambé é adquirido no comércio. Há umas quatro gerações fazem casamentos interétnicos com os regionais e os cônjuges não-índios e os filhos dessas uniões se integram à vida na aldeia. Nos anos 80, um antigo líder, talvez o único conhecedor das antigas tradições e dos cânticos indígenas tinha uma posição de prestígio, mas a liderança era exercida por um jovem com experiência na vida urbana, escolhido por ter maiores facilidades no trato com os regionais.
Os Anambé contaram a Napoleão Figueiredo que nos anos 40 foram levados até Belém e lá batizados, tendo como padrinho de todos eles o então governador Barata. A partir dos anos 60 passaram a batizar os filhos em Mocajuba, cidade para a qual se deslocam na festa da padroeira. Também mantêm contato com os pentecostais da Vila Erlim, próxima da aldeia. Sua mitologia sofreu influência tanto católica como evangélica e a figura do pajé já desapareceu faz muito tempo.
(Cacique Anambé, 2008)
Os Anambé deixaram de comerciar o óleo de copaíba e o leite de maçaranduba, como faziam nas décadas de 50 e 60. E retiram madeira apenas quando necessitam uma quantia maior de dinheiro. Vendem regularmente os excedentes de suas roças (milho, arroz, farinha de mandioca), e eventualmente carne de caça, seja aos regatões que vão até a aldeia, ou diretamente em Mocajuba. Além da agricultura, outras atividades servem de suporte à subsistência: a caça, feita em grupo pelos homens, com o uso de espingardas, complementada pela apanha de jabutis pelas mulheres e crianças, se exerce sobre uma fauna hoje ameaçada pelos desmatamentos feitos por fazendas e serrarias; a pesca, realizada, com anzóis e linha, arco e flecha, sobretudo na estação seca, quando se recolhem também tracajás; e a coleta de frutos e mel.

Aspectos contemporâneos



(Pintura Corporal, 2008)
Até os anos 80, os Anambé nunca tiveram assistência direta da FUNAI, como também não tivera anteriormente do SPI. Não tinham um posto indígena, não tinham nenhuma assistência à saúde. Usavam plantas medicinais silvestres e, nos casos graves, procuravam a casa de uma pessoa amiga em Mocajuba, que os encaminhava para o hospital. Em 1984, o CIMI iniciou a construção de uma escola, que teria ajuda do vigário de Mocajuba e, como professor, um regional casado com uma mulher Anambé.


(Escola Aipã Anambé, inaugurada em 2008)
A primeira atuação da FUNAI na área, nos levantamentos destinados a delimitar a Terra Indígena Anambé, resultou na proposta de transferir os Anambé para a a TI Alto Rio Guamá, tendo em vista a invasão e depredação dos recursos naturais da primeira, e o fato de a segunda já estar demarcada, ser ampla e ser habitada por índios de cultura semelhante, como os Tembé. Os Anambé deveriam ocupar a ponta noroeste dessa TI, no igarapé Tauari, que corre para o Guamá. Entretanto, essa era uma área invadida, e a FUNAI não retirou os invasores antes da chegada dos Anambé, em 1982, que também não gostaram dela, por ser pobre em caça, pesca e água boa. No conflito entre os Anambé e os invasores, morreram dois destes. Os Anambé não quiseram aí permanecer e retornaram no mesmo ano para o Cairari.




Fonte:
Fotos: Acervo da Prefeitura de Moju