Sitio Arqueológico Jaguari, Patrimônio Histórico Mojuense

By | janeiro 09, 2011 5 comments

O sítio Jaguarari localiza-se na margem direita do rio Moju, nas proximidades de sua confluência com o rio Acará, junto à ponte Moju-Alça, da rodovia Alça Viária. Nos dias atuais, a área compreende uma fazenda de rebanho, que é patrimônio do grupo empresarial Y.Yamada, que lá desenvolve atividade de pecuária.

O acesso ao sítio se dá pela BR - 316, percorrendo a Rodovia Alça Viária, no sentido Belém- Barcarena. É também possível chegar ao local por via fluvial, porém, este serviço fica restrito a embarcações particulares (ver figura 01).
O sítio Jaguarari apresenta um grande potencial para a atividade turística, visto que é considerado um sítio arqueológico histórico, por estar localizado num ambiente natural, associado a “acontecimentos passados, tradições populares, criações culturais ou da natureza e a obra dos homens, que possuam valor histórico, etnológico, paleontológico ou antropológico” (SECULT/DEPHAC, 2002, p.38).
Além de o sítio possuir toda uma importância histórica para a região, também é constituído de atrativos que podem se tornar turísticos se organizados e possui um rico patrimônio arqueológico.
A história que compõe o sítio Jaguarari merece grande consideração, porque retrata a importância do local para o desenvolvimento da região ao longo do processo de colonização. A sua origem data do séc. XVII, quando o Jaguarari era de propriedade do Sr. Bernardo Serrão Palmela e sua esposa, que fizeram doação das suas terras aos padres da Companhia de Jesus, com a garantia de que estes sustentassem o casal até a morte. 


 

 
Figura 01 - Mapa de acesso ao sítio Jaguarari
Fonte: Tese de doutorado"Um Modelo da Agroindústria Canavieira Colonial no Estuário Amazônico: Estudo Arqueológico de Engenhos dos Séculos XVIII e XIX" (Marques, 2004).





 No séc. XVIII já havia no local a casa grande, casas de vivenda e algumas “casas térreas”, uma engenhoca na beira do rio, a fábrica de aguardente que gerava bons lucros; uma olaria; uma oficina de ferreiros; uma fábrica de canoas, um curral de gado, uma casa de farinha, com sua roda de ralar mandioca, tecelões, carpinteiros etc. Na fazenda cultivava-se milho, arroz, cacau e café.
Enfim, nela eram praticados os mais variados ofícios.
Foi também no século XVIII, que foram feitas ilustrações do engenho, durante a viagem filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira em 1784, que demonstram a beleza da arquitetura do lugar. 

 
Figura 02 – Iconografia do casarão do engenho.
Fonte: Vista em perspectiva do engenho de açúcar do Capitão Ambrósio Henriques,
datada de 1784, incluída na obra Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira.

 
No início do séc. XX, o lugar foi propriedade de Francisco Libon, alemão que implantou no local uma colônia agrícola. Segundo um antigo morador, nesta época haviam no local quase trinta casas, enfileiradas na beira do rio, e também com um moinho de arroz e uma serraria, movida à água. A roda dá água além de movimentar a serraria, acionava um motor que gerava eletricidade para todas as casas.
E atualmente, no séc. XXI, o local é apenas utilizado como fazenda de rebanho, restando com algumas estruturas do antigo engenho. Em 1996, a área foi objeto de um estudo realizado no projeto “Levantamento de Sítios de Engenho no Estuário Amazônico”, através do qual se constatou sua importância arqueológica como remanescente de engenho colonial, agregando também um valor histórico promissor para o turismo.
A área em que o sítio está inserido é favorecida por uma paisagem natural exuberante, composta pelo rio Moju, que recebe influência da maré e permite o tráfego de embarcações, passeios fluviais, pesca e outras atividades; pela floresta nativa, que conta com diversos exemplares da flora amazônica, com frutas típicas da região amazônica, como taperebá, castanha do Pará, cupuaçu, açaí etc.
Restam ainda no local, estruturas que fazem parte do patrimônio arqueológico do local, ricas em história e cultura como: as ruínas de uma igreja do séc. XVII (com paredes de até 1m de espessura), que, ora foi em homenagem a Nossa senhora de Assunção, ora foi chamada de Nossa senhora do Carmo até pouco antes de ser desativada (ver fotografia 01). Não se sabe ao certo a quando ocorreu essa mudança; os alicerces do antigo engenho de cana-de-açúcar foram soterrados após as escavações, para que não despertasse a atenção de vândalos e curiosos; a calha da roda d’água, construída na metade do séc. XX ainda em boas condições (ver fotografia 02); e possui ainda uma grande variedade de vestígios materiais históricos e pré-históricos, encontrados durante as escavações do grupo de pesquisa do Salvamento arqueológico do MPEG. De acordo com Marques1 (2004), foram coletados no local, mais de 4.000 fragmentos de cultura material, que variam entre cerâmicas indígenas, garrafas de vidro para vinhos e cervejas, louças de origem europeia como faianças e faianças finas.


Fotografia 01 – Ruínas da Igreja de Nossa Senhora do Carmo.
Fonte: Equipe do Programa de Salvamento e Monitoramento de Sítios Arqueológicos no Traçado da Alça Rodoviária- BELÉM/PA,
2001.
 



Fotografia 02 - Calha da roda d’água da metade do séc.XX
Fonte: Equipe do Programa de Salvamento e Monitoramento de Sítios Arqueológicos no Traçado da Alça Rodoviária- BELÉM/PA, 2001.


A história do sítio Jaguarari merece grande consideração, porque retrata a importância do local para o desenvolvimento da região ao longo do processo de colonização.
Atualmente, os vestígios destas ocupações neste terreno encontram-se esquecidos pelo passar do tempo e pelo desconhecimento por parte da comunidade que hoje se encontra no local.










Fonte: Gisele Lopes Moreira (UFPA)
Turismóloga, Especialista em Estudos Culturais da Amazônia
Disponível em: http://www.anppas.org.br/encontro5/cd/artigos/GT1-672-672-20100903172011.pdf





Engenho de Jaguarari

E por ser a terra muito boa para o plantio da cana-de-açúcar é que os jesuítas, em 1669, construíram em Moju o engenho Jaguarari, à margem esquerda do rio Moju, junto ao igarapé de nome flecheiro; nasce em lago nas terras de Jaguarari e deságua no rio Moju, e era aproveitado para fazer a moenda, que viria a ser um dos mais importantes da capitania Pará-Maranhão. Com centenas de escravos, índios submissos, que deu a essa propriedade a fama e a prosperidade que os cronistas coloniais registraram com merecido destaque. Foi à segunda fazenda possuída no Pará pelos jesuítas. Foi outrora, propriedade e casa de recreio dos jesuítas.
Em comprimento da ordem régia de 2 agosto de 1758, foi a fazenda confiscada para o erário régio, como também as demais fazendas que possuíam os jesuítas, neste Estado. A 12 junho de 1773 foi ela vendida por oito contos de reais, ao mestre de campo Hilário de Moraes Bittencourt, de quem a passou, em 1780, a propriedade Ambrosio Henrique.
Neste engenho estiveram em visita diversas personalidades: o Padre Samuel Fritz, que nele esteve quando desceu doente no Pará da aldeia dos Amáguas, em 1689, e o denominara Yavorari; o Dr. João Ângelo Brunelli, quando partiu para o rio negro na comissão de demarcação de limites;  d. Frei João de São José de Queiroz (viagem e visita do sertão em o bispado do Grão-Pará, em 1762 /63); os cientistas Spix e Martius, em 1819, que fizeram diversos realçados  em seus inscritos: “bela propriedade de nosso anfitrião Sr. Ambrosio Henrique, que tinha dado providências para que fossemos aqui hospedados alguns dias” referem aqueles excursionistas (Reise in Brasilien). Em todo o Pará (continua eles) tem dessas fazendas que tiram proveito da cana, plantado nas vizinhanças, para a fabricação de açúcar e, principalmente, para a aguardente, tem a fama de ser o mais bem montado, cômodo e bonito.
E, de fato, não vimos nenhum engenho que se pudesse comparar com este. A casa do engenho e moradia do dono, espaçosa e de sobrado, e de muito gosto, de cujas varandas se goza a aprazível vista do rio, que em frente corre tranqüilo, e das suas margens cultivadas. A casa contém uma grande moenda; a caldeira e o alambique são de modelo inglês. A produção de aguardente do engenho era nesse tempo, de 1.500 pipas por ano.
Do nome dessa fazenda veio o primeiro nobiliárquico que teve o Pará – “Barão de Jaguarari”, concedido por D. Pedro II, em 1830, Ambrosio Henrique da Silva Pombo, neto materno de Ambrosio Henrique e herdeiro dessa propriedade. O segundo (1854) e ultimo barão do Jaguarari foi o brigadeiro Marcos Antônio Brício, casado com uma irmã do primeiro barão, e por sua vez herdeiro da fazenda, de meação com seu irmão e cordeiro Jaime David Brício, segundo tenente reformado da armada nacional e comendador de Cristo, também casado com outra irmã do primeiro barão, que faleceu solteiro. O engenho de Jaguarari foi palco de lutas sangrentas com os cabanos.
CRÉDITOS: SALLES, Valber. 2010.
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5 comentários:

Unknown disse...

Lembrando que antes da Fazenda Yamada as terras da fazenda Jaguarari pertenceram ao meu falecido pai Roberto Régis de Oliveira que adquiriu a propriedade do Alemão Francisco Libon.

Unknown disse...

Eu Carlos Abdoral de Oliveira ( comentários acima)fui um dos herdeiros da Fazenda Jaguarari quando da morte do meu pai Roberto Régis de Oliveira, posteriormente vendemos as terras para o grupo Y Yamada.

Unknown disse...

Olá, tenho interesse de estudar sobre esses assuntos relacionados os sítios arqueológicos de Moju, até mesmo porque sou um mojuense nato. Muitas coisas precisa ser revista nesses processos!

Unknown disse...

Perfeito....muitas coisas precisam ser revistas...meu pai foi proprietário dessas terras até 13 de julho de 1971 quando veio a falecer, posteriormente nós herdeiros vendemos para o sr. Takuo Yamada, sra. Neuza Yamada e seu marido, que posteriormente venderam para o grupo Yamada.
Ainda tenho na memória os locais de algumas arqueologias como a igreja que fica na frente do cemitério onde meu pai está enterrado ( inclusive o Alemão Francisco Libon ) existe ou existia umas construções estranhas, um túnel que ainda deve existir, uma torre ( chaminé ) de blocos cerâmicos com uns 20 a 30 metros de altura que foram demolidas por meu pai para aterrar a estrada onde trafegava um caminhão com madeiras para abastecer a serraria, existia também uma grande roda d'água que não lembro qual era a função, como um igarapé que foi aterrado com serragem pelo meu pai que ia da roda d'água até uma comporta que controlava a vazão de água para o rio. O local onde ficava essa comporta foi aterrada pelo grupo Yamada.
Enfim.....estou a disposição para ajudar no que for necessário.

Unknown disse...

Tranqüilo meu amigo, entrarei enconto com você em breve ok