O professor e escritor mojuense Tiese Teixeira Jr. concedeu gentilmente ao nosso blog uma entrevista falando um pouco de sua caminhada neste mundo da escrita, suas aspirações, inspirações e projetos futuros. Confira como se deu a entrevista.
Memória Mojuense – Quando
você se descobriu como escritor?
Tiese Jr – Minha descoberta
como escritor é fruto das situações de necessidade que tive. Quando eu fazia
teatro nos Frutos da Terra nos anos 90, houve a necessidade de se fazer um
texto em homenagem ao aniversário da cidade e naquele momento então, eu tinha
umas ideias como se poderia fazer um texto e comecei a colocar no papel, fui
escrevendo os atos da peça, parece-me que eram três ou quatro atos, e ali saiu
uma peça de teatro inicial, essa escrita do teatro foi amadurecida durante o
tempo de vigência do grupo em outros textos. Anos depois, quando eu já estava
em Goianésia, a partir de 2004, surgiu então a necessidade novamente de escrever
para a disciplina de Estudos Amazônicos. Então, frente a esta necessidade eu
fui descobrindo que poderia escrever para esse segmento. Assim, a descoberta
está associada eminentemente em mim a contexto de necessidade. Primeiro na
escrita para o teatro e segundo na escrita pra educação, mais direcionado para
a disciplina Estudos Amazônicos. Então, esta descoberta vai se dando aos
poucos.
Memória Mojuense – Nos
fale um pouco da tua relação com essa Amazônia.
Tiese Jr – É uma
relação de encantamento e de assombração.
Encantamento pela vida que existe aqui, pela história da Amazônia,
sua geografia, pelo imaginário, pela mitologia que esta região carrega, por
estas riquezas todas que são tanto materiais quanto simbólicas. Eu me encanto
com beleza de rio, beleza de árvores, belezas dessas vidas que eu vejo nessas “Amazônias”
que eu encontro por onde eu passo. Minha referência é sempre de uma Amazônia
por onde estou passando. Eu sei que existe uma grande parte dela que eu não
conheço. A minha Amazônia quando falo é uma Amazônia paraense, um pedaço bem
pequeno do todo.
E num outro lado é uma relação de assombração por conta das
mazelas sociais que vejo, por conta dessa ganância do capital e de como ele se
impõe nessa região e cria contextos de miséria, de lutas sociais que são importantes
de serem registrados. Isso é o que tem marcado minha relação com ela. Então eu
tento, na medida de minhas limitações, colocar aspectos dessas duas relações
principais dentro dos textos que eu faço. Mas eu ainda estou começando a fazer
isso. Ainda tenho que aprender muito.
Memória Mojuense – De
onde vêm os personagens? De alguma forma se relacionam com alguém que você
conhece?
Tiese Jr. – Aí a
gente está falando dos contos. Os personagens vêm das vidas que encontro. Desde
minha mais tenra infância no alto rio Moju eu venho encontrando gente
interessante, com histórias de vida interessante e elas de alguma forma marcam
a minha escrita. Elas estão presentes, estão inspirando essa escrita. Então, esses
personagens vêm dessas vidas que eu encontro, nessa Amazônia por onde tenho
andado, e eles são a “matéria prima” principal para a escrita. Sempre que olho
para meu entorno, geralmente vejo uma vida interessante, com potencial para
alimentar uma das histórias que conto, nos livros que tenho feito e nos que
ainda pretendo escrever.
Memória Mojuense – Classificas
tua escrita como de Resistência. Qual significado devemos compreender?
Tiese Jr. – Quando
eu digo que minha escrita é de resistência, e digo também que ela é política, é
porque se propõe a ajudar ou criar referências sobre a Amazônia para o ensino
básico. Eu sinto que a educação básica é penalizada quando a questão é a
produção de textos escritos sobre a Amazônia. Então, ela é de resistência nesse
aspecto e também por trazer elementos históricos, sociais, geográficos, de
vidas que estão aqui e que estão invisíveis, que não são reconhecidas
oficialmente ou que estão relegadas a segundo plano, que ficam pra depois e que
estão lutando pela sobrevivência. Ainda digo que ela é de resistência porque está
lutando para sobreviver, para criar um espaço, para construir ou ajudar a construir
uma referência. Posso exemplificar por meio do conto “Às pressas”, que conta a
história de uma garota que vende milho cozido numa parada de van e na rapidez
que ela tem que entrar no veículo para fazer sua venda. Essa garota está aparentemente
invisível aos olhos da maioria, está tão inserida no contexto, e aquilo ali é
tido como uma normalidade tão grande que essa vida parece não merecer ser
retratada. Essa é a sensação que tenho. Então, a ideia da resistência está por
trazer também elementos dessa vida dita comum, homens, mulheres e crianças
comuns, que estão circulando ao meu redor, sobre o qual pouco ou nada se fala.
A resistência e a política de minha escrita está exatamente em tentar dar
visibilidade a estas vidas, tidas como desimportantes, que eu considero, a
partir principalmente do momento que ingresso na pós-graduação, especialmente
do mestrado, como algo muito importante e que precisa ser valorizado.
Memória Mojuense – Atualmente,
cada vez é mais difícil publicar um livro, principalmente devido a motivos
financeiros. Qual foi a tua maior dificuldade em publicar teus livros?
Tiese Jr. – A maior dificuldade é sem dúvida de ordem
financeira. Porém, com muito esforço, temos conseguido superar esse desafio.
Memória Mojuense – Já
tens projetos futuros? Para quando teremos novidades?
Tiese Jr. – Quanto aos projetos, já temos um livro pronto,
chamado Estudos Amazônicos: História e Linguagens, composto por atividades interdisciplinares
para sala de aula do ensino básico, na tentativa de ajudar professores e alunos
nesse processo de ensino aprendizagem. Aqui, mas uma vez a palavra estudos
amazônicos aparece evidenciada em primeiro plano e como resistência também, de
criar esses espaços para que se fale da disciplina também. Acreditamos que no
segundo semestre o livro já estará pronto e esperamos fazer o lançamento em Moju,
como forma de chamar essa comunidade maravilhosa para estar conversando com a
gente sobre a criação de espaços de ensino aprendizagem na região Amazônia.
Memória Mojuense - Professor, nós queremos agradecer sua disponibilidade em conceder esta entrevista. Estamos sempre à sua disposição para estarmos divulgando seus trabalhos. Já para a próxima publicação conte conosco.
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