O
imaginário
mítico amazônico é rico e diversificado. Manifesta-se nas crenças e costumes,
que contribuem para a compreensão do vasto mundo mágico que permeia os diversos
fenômenos naturais
e
sobrenaturais
observados,
que contribuem para essa relação do homem com a natureza.
Assim
é a identidade dos povos da Amazônia, recheada de valores que constituem uma
tradição genuinamente cabocla, narrada de geração a geração em linguagem
cotidiana que persiste e ultrapassa barreiras históricas ditadas pelo tempo. Essa
predominância do imaginário presente na identidade dos habitantes é produto da
acumulação de experiências vividas no meio. Portanto, através
de sua história de vida, o seu modo, a forma como convive permite o relato de
experiência de vida trazida de geração para geração sofrendo ao longo do tempo
suas devidas transformações.
O Sr.
Crisolino
Pastana,
por alcunha Seu Pirico, nascido
na Fazenda
Santo Antônio, Alto Rio Moju, município de Moju-Pa,
no ano de 1927, portanto hoje com 85 anos de idade, conhecido contador de
“causos”. É neto do Barão
de Cairari,
figura histórica do Pará. Viúvo, aposentado, mora atualmente no bairro
Parolândia,
nesta cidade.
Conversei com ele sobre esses fatos amazônicos, dos quais selecionei duas histórias do imaginário popular, transcritas tal
como foram vivenciadas e relatadas por ele.
O CURUPIRA
Ai nós fizemos um serviço de
madeira, tirando madeira em rola né, e nós tirava água no olho d’água onde
tinha um poço, ai um poço limpo, lugar lá muito limpo, um rastro diferente,
calcanhar pra frente. Ai nós contamos prum amigo lá que nós tinha visto isso, um
rastro lá na frente desse olho d’água, desse poço e , e ficamos ali esperando uma resposta dele né.
Ai ele pensou quando foi no outro dia encontrou com nós e disse: olha, é, é
curupira, ela vem toma água lá. Vocês querem conhecer curupira. Eu disse eu
quero. Então compra uma garrafa de cachaça e põe lá, que ela vem beber e ela
fica porre e quando vocês forem encher a água, constantemente, vocês chegam lá
nos serviço, é oito horas, é... umas nove horas vocês buscar água, o que fica
sempre uma distanciazinha de meio quilometro, quinhentos metros e vocês verem
ela. Tá. Ai não ia só um, porque tinha assim um arreceio né, de ver qualquer
coisa ali naquele olho d’água. Ai nós fomos encher a água, barde, mais o outro
barde, cada um, um barde né, pra beber o dia, pra tomar essa água o dia. E nós
vamos, vamos comprar a cachaça. Compramos cachaça e colocamos lá. Quando nós
fomos buscar água ela tava bêbada, a curupira. Mais horrivi, muito cabeludo, o
carcanhá pra frente e a boca dela um beição grande, e ai nós ficamos, é
atemorizado e fomos embora. Quando foi no outro dia que fomos lá ela tinha ido
embora. Ai nós conhecemos a curupira. Foi, foi isso.
COBRA GRANDE
Eu viajava num barco já aqui
do Moju, na lancha da prefeitura. Ai, chegando lá na fábrica, tava um
miritizeiro de atravessado no rio. Que quando eu dei, a lancha ia montando, ai
ela já pegô, bateu no meio do miritizeiro, só que não era miriti. Era a cobra.
Ai a cobra bateu no lado, o rabo na canoa, quase alaga. Ai eu conheci que era
cobra. Ao invés dela baixar, ela subiu e aquele banzeiro grande, andemos dois
quilometro, a canoa jogando aquele banzeiro. Ai ela veio, veio, até encalhar
numa praia, pra lá ela morreu sabe. Eu matei a cobra, com a lancha, com o
talhamau em cima do espinhaço, quebrou o espinhaço dela, quebrou.
Agradecimentos ao amigo Pirico, que dispensou um pouco de seu sossego para nos satisfazer com suas histórias.
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